Nos dias de semana, o parque era habitado por moradores de ruas e meninos viciados em drogas. Quem passava por ali tinha muita pressa: segurava seus pertences com toda força do mundo, caminhava em passos rígidos para atravessar o abandonado Campo de Santana.
No entanto, no sábado, foi possível presenciar uma cena diferente. Muitas cangas, toalhas e papéis improvisados serviam de repouso aos diferentes tipos de pessoas que buscavam seu lugar na sombra para assistir ao belo espetáculo da Intrépida Trupe. As crianças se debruçavam no cenário, que mais parecia uma instalação infantil em perfeita harmonia com aquele espaçoso gramado. Os artistas se sobressaiam, em tons laranjas, rosas e amarelos, com suas piruetas, danças, coreografias e expressões.
A beleza do Campo esquecido era completa com a arte em suas diversas expressões. Tudo ali era vibrante. O canto dos pássaros lutava com a trilha sonora do espetáculo, em um maravilhoso combate. Os artistas habitavam uma casa com muitas armadilhas: passavam por camas no teto, ferros, se equilibravam no cenário, onde o chão era a grama, a vida em forma de verde. Ali, no escondido Campo de Santana, a arte e a vida se instalaram e provaram que o abandono, o esquecimento e a violência não vão superar a naturalidade das coisas: aquele gramado não é palco de medo, ele é, sim, um habitat natural das crianças, da dança, da família, dos pássaros, da acrobacia, dos artistas, das cotias e, é claro, da vida.