sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Moonrise Kingdom

Como a beleza consegue ser essencialmente triste? Em tons pastéis, figurinos impecáveis, maquiagem propositalmente manchada por um azul profundo. Um filme inevitavelmente perfeito. São quadros, enquadramentos, paisagens, ilha, mar, grama. Tudo vibra em um constante tempo, que não passa, que repassa as tradições, que expõe o limite encravado no peito rodeado pelo oceano.

Há um cronômetro que desperta aqueles escoteiros predestinados a conviver com a melancolia da rotina. O dia é limitado por apitos ensurdecedores, já a noite nunca chega: ela habita cada um do universo. A escuridão não consegue se calar diante da beleza da arte, da casa de bonecas, de uma ilha com paisagens fenomenais. Nada, ali, passa de um vício, dos rituais humanos de se restringirem aos seus próprios fantasmas, de se prenderem em suas dificuldades, temendo o novo.

Seria um teatro ou um filme? A dor extrapola o laranja quente das telas. O amarelo apreende o olhar do espectador e prende os jovens Sam e Suzy. A saúde dos personagens é expressa, justamente, na inadequação. A loucura, a impossibilidade de conviver, o desespero pela fuga para uma ilha dali distante. Para que existem os estudos de cartografia se eles são limitados às fronteiras geográficas? A geografia não basta. É preciso construir linhas imaginárias, novas composições, novas cores que manchem aquele tom insistentemente amarelado e empoeirado por tradições perdidas.

A agressividade de Suzy é a barreira para uma sociedade que insiste em se acomodar, esconder suas frustrações para não exibir suas feridas mais profundas. Cada um, ali, se recusa a reconhecer a fragilidade das relações, que sobrevivem graças às instituições falidas, ao estado de alerta que proíbe que a situação fuja ao controle. Porém, nada pode deter a loucura, logo ela, expressa nos dois jovens apaixonados, dispostos a escancarar todos os podres, colocando a faca no peito da hipocrisia de uma sociedade medíocre.

Por ironia, Sam, o jovem sem família, odiado e repudiado por todos que são amarrados em convenções, tem a brilhante ideia de partir para uma nova dimensão, rodeada de mar, de esperança, de crise existencial. Ele não admite o comodismo, ele busca o novo, encara a dor. Consegue, por tabela, reunir toda a agressividade latejante de Suzy e partir sem rumo. O que eles buscam não está no mapa, não está na ilha. Pode ser encontrado após o dilúvio, mas – sem dúvidas -, com muita dificuldade. As barreiras do tempo que levam à vida adulta são amarras de todos. Quem sabe, um dia, o jovem casal consiga, em seu crescimento individual, se desfazer de tudo aquilo que os cerca e se perder no mar.