Como a
beleza consegue ser essencialmente triste? Em tons pastéis, figurinos
impecáveis, maquiagem propositalmente manchada por um azul profundo. Um filme
inevitavelmente perfeito. São quadros, enquadramentos, paisagens, ilha, mar,
grama. Tudo vibra em um constante tempo, que não passa, que repassa as
tradições, que expõe o limite encravado no peito rodeado pelo oceano.
Há um
cronômetro que desperta aqueles escoteiros predestinados a conviver com a
melancolia da rotina. O dia é limitado por apitos ensurdecedores, já a noite
nunca chega: ela habita cada um do universo. A escuridão não consegue se calar
diante da beleza da arte, da casa de bonecas, de uma ilha com paisagens
fenomenais. Nada, ali, passa de um vício, dos rituais humanos de se
restringirem aos seus próprios fantasmas, de se prenderem em suas dificuldades,
temendo o novo.
Seria
um teatro ou um filme? A dor extrapola o laranja quente das telas. O amarelo
apreende o olhar do espectador e prende os jovens Sam e Suzy. A saúde dos
personagens é expressa, justamente, na inadequação. A loucura, a
impossibilidade de conviver, o desespero pela fuga para uma ilha dali distante.
Para que existem os estudos de cartografia se eles são limitados às fronteiras
geográficas? A geografia não basta. É preciso construir linhas imaginárias,
novas composições, novas cores que manchem aquele tom insistentemente amarelado
e empoeirado por tradições perdidas.
A
agressividade de Suzy é a barreira para uma sociedade que insiste em se
acomodar, esconder suas frustrações para não exibir suas feridas mais
profundas. Cada um, ali, se recusa a reconhecer a fragilidade das
relações, que sobrevivem graças às instituições falidas, ao estado de alerta
que proíbe que a situação fuja ao controle. Porém, nada pode deter a loucura,
logo ela, expressa nos dois jovens apaixonados, dispostos a escancarar todos os
podres, colocando a faca no peito da hipocrisia de uma sociedade medíocre.