sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A Gorda

Em qualquer lugar por onde ela andava não tinha jeito. Todos olhavam, com aquele inconfundível olhar de pena. Alguns comentavam entre si: "Coitada, tão gorda, mal consegue se locomover". "Seria melhor ela sair rolando", uma adolescente gargalhava com sua amiga.

Ela sabia que era gorda, afinal, tinha espelho em casa. No entanto, nunca havia conseguido emagrecer. Na verdade, não. Uma vez a mulher perdera 3 quilos. Aquilo foi uma vitória, porém, ninguém, nem mesmo os seus pais, percebeu a diferença. Assim, em pouco tempo e muitos doces a mais, a normalidade da balança se consolidou de vez.

Já estava conformada em ser gorda, apesar de toda aquela massa adiposa extra lhe fazer sofrer - e muito. Quando começava uma dieta ou um exercício físico, as pessoas ao seu redor a ironizavam. "Filha, futebol é impossível para uma pessoa tão sedentária como você", dizia a mãe. Já o pai, que acabara de voltar de uma viagem ao exterior, provocava: "Trouxe vários chocolates Lindt, pena que você não pode comer nenhum".

Assim, toda vez que pensava em emagrecer, mais ela se afundava na solidão de seus quilos preponderantes. Ninguém levava a sério a sua vontade de se tornar esbelta, do desejo camuflado de se vingar de todos os olhares assustados, de todas as ironias e apelidos que foi obrigada a conviver. "Um dia, todos me verão magra", sonhava.

Só de pensar neste dia, uma agonia e ansiedade lhe tomavam o peito. Uma raiva de todos aqueles que já se colocaram em posição de superioridade por serem magros a penetrava. Era um sentimento tão forte, uma angústia tão latente, que ela não resistiu: foi ao supermercado comprar um chocolate para relaxar.