Ela sabia que era gorda, afinal, tinha espelho em casa. No entanto, nunca havia conseguido emagrecer. Na verdade, não. Uma vez a mulher perdera 3 quilos. Aquilo foi uma vitória, porém, ninguém, nem mesmo os seus pais, percebeu a diferença. Assim, em pouco tempo e muitos doces a mais, a normalidade da balança se consolidou de vez.
Já estava conformada em ser gorda, apesar de toda aquela massa adiposa extra lhe fazer sofrer - e muito. Quando começava uma dieta ou um exercício físico, as pessoas ao seu redor a ironizavam. "Filha, futebol é impossível para uma pessoa tão sedentária como você", dizia a mãe. Já o pai, que acabara de voltar de uma viagem ao exterior, provocava: "Trouxe vários chocolates Lindt, pena que você não pode comer nenhum".
Assim, toda vez que pensava em emagrecer, mais ela se afundava na solidão de seus quilos preponderantes. Ninguém levava a sério a sua vontade de se tornar esbelta, do desejo camuflado de se vingar de todos os olhares assustados, de todas as ironias e apelidos que foi obrigada a conviver. "Um dia, todos me verão magra", sonhava.
Só de pensar neste dia, uma agonia e ansiedade lhe tomavam o peito. Uma raiva de todos aqueles que já se colocaram em posição de superioridade por serem magros a penetrava. Era um sentimento tão forte, uma angústia tão latente, que ela não resistiu: foi ao supermercado comprar um chocolate para relaxar.