segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sem um canto

E quando você não tem um canto? Ao abrir o espelho, você dá de cara com outra? E, ao abrir o seu armário, nada está mais lá?... Está tudo usado, com aquele cheiro impregnado de cigarro, seu vestido novo está rasgado, com um rombo de desrespeito.

O presente que o namorado te deu viajou com a outra, não está em suas gavetas... não está em nenhum lugar, apenas pode ser visto nas fotos postadas por aí... Você encontra o que era seu em um papel fotográfico, mas não consegue rever nunca mais. Sua calcinha preferida também sumiu, manchada pelo corpo de outra.

Espaço dividido torna-se área livre para sujeira. Restos de comida, roupas íntimas jogadas no chão, toalhas molhadas por todos os cantos. A roupa de cama encardida tem cheiro de podre. O seu lado branco é irreconhecível. As suas fotos no mural estão ao lado de pessoas desconhecidas, com jeito estranho, com olhar desconfiado.

E a sua cama está ocupada. Uma pessoa cheia de perebas está ali. Você não a conhece, não sabe como veio parar em seu ambiente. Ao mesmo tempo, você evita fazer barulho para não acordá-la, pois um medo de assustar te aflige... No entanto, neste instante, você se lembra que está sendo invadida, que o medo deveria ser seu, o pânico de ser ocupada por um outro ser faz parte de você - e este sentimento, de ti, ninguém pode tirar. Sem canto, sem paradeiro e sem nenhum encanto.